Um Caminhar pela História do Recife - Parte 03

3ª parte composta pelo: Mercado de São José, Basílica de Nossa Senhora da Penha, Igreja de Santa Rita de Cássia, Igreja de São José do Ribamar.

1–Mercado de São José
É um dos vinte e quatro mercados públicos do Recife. Localizado no bairro de São José, é o mais antigo edifício pré-fabricado em ferro no Brasil, com a mesma estrutura neoclássica dos mercados europeus do século XIX. O local onde foi montado o Mercado de São José abrigava antes o Sítio dos Coqueiros, depois chamado Largo da Ribeira do Peixe. No começo do século XIX, o governador de Pernambuco Dom Tomaz José de Melo ordenou a construção, no largo, do Mercado da Ribeira do Peixe, onde eram comercializadas várias mercadorias para o consumo da cidade do Recife. Em 1891, a Câmara de Vereadores do Recife encomendou o projeto de um mercado para a região. Foi projetado pelo engenheiro da Câmara Municipal do Recife, J. Louis Lieuthier, em 1871, que se inspirou no mercado de Grenelle em Paris, e construído pelo engenheiro francês Louis Léger Vauthier, bem conhecido dos pernambucanos. Chegou aqui em 1839, aos 24 anos, com um diploma da Escola Politécnica de Paris de engenheiro de pontes e calçadas, trazido pelo atual presidente da província Francisco do Rego Barros, o Conde da Boa vista. Participou de forma ativa de vários projetos como o Teatro Santa Isabel e construção e reconstrução de edifícios e estradas. Vauthier passou mais seis anos e voltou a Paris por causa da deposição do Conde, em 1846. O Conde da Boa vista queria realmente transformar Pernambuco numa Paris. Tinha decidido modernizar e higienizar Recife, trazendo muitos engenheiros, matemáticos, construtores de pontes, edifícios públicos, obras hidráulicas e topográficas da Europa. A cidade ganhava vida e um progresso nunca antes visto. A província de Pernambuco despontara como uma das mais importantes do Império Português. Em 1865, foi designado presidente da Província do Rio grande do Sul, acumulando as funções de comandante das Armas, estando àquela província já envolvida na Guerra do Paraguai. A obra do Mercado de São José começa em 1872 e vai até 7 de setembro de 1875, sendo inaugurado por João Pedro Carvalho de Morais, o atual presidente da província, e assim chamado por ter sido edificado no bairro de São José. Passou desde a sua criação por algumas reformas, como a de 1906, cujas obras duraram dez meses e a de 1941, quando foram colocados os cobogós de cimento, em substituição às venezianas de madeira e vidro. Ambas modificaram a sua feição original, mas deixaram intacta sua estrutura de ferro. Em 1985, o projeto de restauração do Mercado foi apresentado à imprensa. A obra seria resultado de uma parceria entre a Prefeitura da Cidade do Recife e o IPHAN, a ser executada com o financiamento da Caixa Econômica Federal. Em novembro de 1989, com a restauração quase concluída e quando já se anunciava a sua inauguração, um grande incêndio destruiu o pavilhão norte do Mercado. Pela primeira vez, em 114 anos de existência, o São José fechava as suas portas. Vieram tempos difíceis para os comerciantes que ali trabalhavam e para os frequentadores, tão acostumados ao burburinho característico do lugar. Somente em 1994, com os trabalhos de recuperação totalmente concluídos, o Mercado foi reinaugurado e Recife teve de volta um dos seus mais belos monumentos históricos, lugar de uma estonteante diversidade de sons, cheiros e cores; palco de histórias e memórias da cultura pernambucana. Em 17 de dezembro de 1973, o Mercado de São José foi tombado pelo IPHAN e, assim, considerado Patrimônio Histórico Nacional. Ele passou a ser reconhecido como um monumento nacional, que integra o patrimônio cultural do Brasil, pois se constitui num já raro exemplar da arquitetura típica do ferro no século XIX. Antigamente, lá se apresentavam mágicos, acrobatas, ventríloquos, ouviam-se sons de pandeiros, zabumbas, cavaquinhos e sanfonas e havia muitos tipos populares, hoje, em grande parte, ausentes do local. O Mercado já foi o maior centro no Recife de cantadores, emboladores e da literatura de cordel. Hoje, quem visita o Mercado, além de apreciar uma bela arquitetura que ocupa uma área de 3.541 metros quadrados com seus dois pavilhões, 545 boxes cobertos e 80 compartimentos na sua área externa, além de 24 outros destinados a peixes, 12 a crustáceos e 80 para carnes e frutas, é também, um local onde se encontra o melhor do artesanato regional, folhetos de cordel, ervas medicinais, artigos para cultos afro-brasileiros, como um lugar para os amantes da culinária nordestina. É lá que se pode apreciar o sarapatel, a macaxeira com carne de charque, a galinha à cabidela, a tapioca, o queijo coalho assado na brasa, e tantas outras iguarias. Importante centro de abastecimento do bairro de São José e um ponto de atração turística na cidade do Recife. Enfim, quem passeia pelas ruas do Mercado de São José tem a oportunidade de conhecer um belo patrimônio histórico e de assistir a uma grande exposição da cultura pernambucana.

2 – Basílica de Nossa Senhora da Penha
A Basílica de Nossa Senhora da Penha, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, constitui um imponente edifício na paisagem urbana no Bairro de São José – fortemente marcada pela presença das torres sineiras altas e delgadas e da enorme cúpula do transcepto, símbolos de uma forte religiosidade – que norteou a configuração urbana do início da formação da cidade do Recife. A volumetria da Basílica destaca-se no contexto pela sua monumentalidade e singularidade que, além da pertinência como elemento arquitetônico, o partido de planta em cruz, ao gosto românico, coroa a devoção religiosa cristã tão forte. A origem da localização da Igreja da Penha remonta a um pequeno oratório situado em “Fora de Porta de Santo Antônio”, correspondendo, com uma pequena diferença, ao terreno onde hoje está erguida a construção contemporânea. Sua construção iniciou-se em 1870. É o único templo recifense em estilo coríntio, o orago foi instituído em 1655 pelos franciscanos capuchinhos franceses Cyrillo, Fabiano e Antônio e ampliado em 16 de abril do mesmo ano, em um terreno doado por Belchior Alves Camello e sua mulher Joanna Bezerra. A localização antiga projetava a igreja à frente, onde hoje está situada a Praça Dom Vital, marcando a diferença dos processos construtivos da edificação. Fundando a igreja e o convento sob a invocação do Espírito Santo. Concluída a igreja, o quadro da Virgem da Penha foi introduzido, rememorando a devoção fervorosa dos habitantes no antigo oratório. Com o passar do tempo, a igreja e o convento passaram a ser conhecidos pelo nome da Virgem, esquecendo-se a invocação do Espírito Santo.

3 - Igreja de Santa Rita de Cássia
Os irmãos da ordem de Santa Rita de Cássia recorreram a José César de Menezes, capitão-general e governador de Pernambuco, a fim de obterem um terreno para a construção da igreja que foi atendida por José Marques do Vale, sargento-mor da capitania de Pernambuco e um abastado colono que também fez uma doação, no dia 12 de abril de 1783, de um grande terreno, na rua da Praia dos Coqueiros, no bairro de São José (rua que é chamada, hoje, de Santa Rita). Assim no dia 17 de dezembro de 1783, a pedra fundamental foi lançada no templo e as obras da igreja puderam ser concluídas em 1784. A Irmandade de Santa Rita de Cássia, em agradecimento ao governador José César de Menezes, mandou gravar as armas daquele capitão-general no átrio da capela-mor. E, em 1790, de acordo com a exigência feita pelo doador do terreno do templo, foram bentas e depositadas em seus altares as imagens de São José e de Nossa Senhora da Conceição; bem como mais duas imagens: São Caetano e do Coração de Jesus. A torre e os últimos detalhes da fachada, por sua vez, só puderam ser concluídos em 1831. O responsável pela pintura dos painéis internos da igreja foi o artista Sebastião Canuto da Silva Tavares. Vê-se, também, sobre a porta principal, um emblema com cruz e cordeiro. O templo foi reformado entre 1868 e 1870; depois, em 1889, após a ocorrência de um grande incêndio. As imagens do templo foram recolhidas na Igreja de São José do Ribamar. Como por milagre, a imagem de Santa Rita de Cássia, que estava presente na capela-mor, saiu ilesa do incêndio, contribuindo para aumentar, ainda mais, a fé de todos os seus devotos.

4 - Igreja de São José do Ribamar
Um dos prédios mais antigos da capitania de Pernambuco, situado no bairro de São José, a igreja de São José do Ribamar começou como uma modesta capelinha, fruto da iniciativa de carpinteiros e marceneiros do Recife. O surgimento desse templo, portanto, representou uma obra de devoção popular. O prédio foi levantado sob o signo de São José dos Carpinteiros - o seu padroeiro - que exercia essa mesma profissão. A fundação da igreja, propriamente dita, foi no dia 6 de junho de 1752, quando o provisor do bispado de Olinda, acatando o patrimônio da Irmandade, como estando em condições regulares, aforou "um terreno situado nas terras do Curado, na Rua Julião de França, fora da Porta de Santo Antônio". Os trabalhos começaram em 1756, que ficou inacabada até 1788, quando o governador D. Tomás José de Melo convidou os negociantes locais a fim de participarem de um leilão público. Devido à adulação de certos negociantes, algumas peças leiloadas alcançavam preços bastante elevados, chegando a serem arrematadas mais de duas vezes. Isto porque os arrematantes, após adquiri-los, deixavam os objetos, novamente, para o acervo de São José. Foi dessa maneira que se teve recursos e deu andamento às obras da igreja. O prédio, no entanto, só ficou pronto em 1797. Em 1902, a igreja ficou mais imponente, ainda: ganhou torres, um frontispício mais austero, e ornamentos, com símbolos relacionados ao trabalho em madeira - pregos, martelos, esquadros, compassos, e outros -, para deixar em evidência, eternamente, a profissão dos seus fundadores. A despeito de possuírem um grande valor histórico, as talhas, os ornamentos, as imagens, os quadros, e os capitéis, não se encontram em bom estado de conservação. No forro do teto de madeira é possível apreciar um grande painel emoldurado, com a imagem de São José, tendo em seu contorno doze medalhões com o busto dos apóstolos, em vulto natural. Estão presentes, ainda, as Irmandades de Nossa Senhora da Luz, Nossa Senhora do Bom Parto e Senhor Bom Jesus dos Aflitos. No muro do adro, são belas as tochas de pedra, com suas labaredas espessas. Observa-se, na fachada, um belo trabalho feito com mosaicos em cores azul e branca, e dispostos em um semicírculo. A obra é uma criação do artista pernambucano Francisco Brennand.

FONTES CONSULTADAS: HÉLIO, Mário. Pesquisador quer vida nova para o Mercado de São José. Jornal do Commercio, Recife, 7 set. 1995. Caderno C, p.1. FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977. SANTOS, José Batista dos. Pernambuco histórico, turístico, folclórico. [Recife: s. n.], 1989. p.283-284. SILVA, Geraldo Gomes da. O Mercado de São José e sua arquitetura. Arquivos, Recife, n.2, p. 137-188, dez. 1977. GASPAR, Lúcia. Mercado de São José. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. 2011. VAINSENCHER, Semira Adler. Arquivo Público Estadual de Pernambuco. REVISTA DO ARQUIVO PÚBLICO, Recife, 1º semestre, 1946. ILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado: histórico dos bens tombados no Estado de Pernambuco. Recife: [s. n.], 2002. 266 p. MENEZES, José Luiz Mota; REINAUX, Marcílio. Palácio da Justiça. 2. ed. rev. e ampl.Recife: Gráfica e Editora Liceu, 1997.

Um Caminhar pela História do Recife - Parte 02

2ª parte composta pelo: Gabinete Português de Leitura, Jornal do Commércio, Arquivo Público Estadual, Praça Dezessete, Igreja do Espirito Santo, Fórum Thomaz de Aquino:
1 - Gabinete Português de Leitura
Em meados do século XIX, a maioria dos jovens portugueses que vinha ao Recife era originária das aldeias e muitos chegavam aqui analfabetos e desinformados, em busca de melhores condições de vida. Os que já haviam conseguido uma boa posição, sentindo-se responsáveis pelos outros, tiveram então a ideia de criar um local onde todos pudessem se encontrar para trocar informações sobre as famílias que haviam ficado em Portugal, receber cartas e ler jornais e livros portugueses. Procurando uma solução, o Comendador Miguel José Alves, na época, Chanceler do consulado de Portugal no estado, foi o primeiro a pensar na possibilidade de em Gabinete Português de Leitura em Pernambuco. Porém, se ao Comendador cabe o mérito da elaboração da ideia, coube ao cirurgião e jornalista João Vicente Martins a honra de fundar, em 3 de novembro de 1850, constituir a primeira diretoria, reunir os primeiros associados e viabilizar a instalação, em 15 de agosto de 1851, do Gabinete Português de Leitura de Pernambuco, em seu primeiro endereço, na Rua da Cadeia Velha, Recife. Em 1909 o Gabinete Português de Leitura fixou-se definitivamente no local onde tem a sede atualmente na Rua Imperador D. Pedro II, 290, num terreno que comprou em esquina com a Rua Siqueira de Campos e onde construiu o majestoso prédio. Localizado em área grande valor histórico e arquitetônico perto da Capela Dourada e ao Palácio do Campo das Princesas, o Gabinete Português de Leitura tem um salão que é aberto para conferências literárias ou científicas e no seu hall pintores costumam fazer exposições. O Gabinete é um dos monumentos mais importantes da presença portuguesa no Recife.
2 - Jornal do Commércio
Fundado em 3 de abril de 1919 pelo jornalista, empresário e político paraibano Francisco Pessoa de Queiroz. É parte integrante do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, um conglomerado de veículos de comunicação que conta ainda com a TV Jornal, Rádio Jornal, JC/CBN Recife e o JC OnLine (todos situados no Recife),além dos veículos localizados no interior do Estado como a TV Jornal Caruaru e a rede Rádio Jornal (presente em Caruaru, Garanhuns, Limoeiro, Pesqueira, Petrolina). Figura entre os periódicos de maior credibilidade do Brasil e já conquistou ao longo de sua história muitos dos principais prêmios nacionais destinados ao setor de comunicação, como o Esso Regional Nordeste, Fiat Allis, Vladimir Herzog, Imprensa Embratel, Unisys e José Reis de divulgação científica, entre outros. A publicação também é recordista absoluta do Prêmio Cristina Tavares, maior reconhecimento jornalístico pernambucano, com dezenas de troféus em texto, arte, foto e desenho. Entre os reconhecimentos mundiais, estão o Prêmio Desertificação: Uma Ameaça Global, conferido pela ONU, o da International Library of Photography e vários reconhecimentos no News Page Design (que elege as melhores capas de jornais do mundo).
3 - Arquivo Público Estadual
Quando o Palácio do Campo das Princesas foi reformado, no ano de 1922, foram jogados milhares de documentos (considerados apenas como "papéis velhos") no rio Capibaribe, que pertenciam ao acervo histórico do Estado, e que vinham sendo arquivados desde a administração do Conde da Boa Vista, ano de 1842. Diante da própria necessidade, foi no governo do Desembargador José Neves Filho - interventor federal no Estado de Pernambuco -, no dia 4 de dezembro de 1945, que o Arquivo Público Estadual (APE) foi criado, mediante o Decreto-Lei 1.265. Isto pretendeu dar um basta à destruição dos documentos do Governo, e abrir um espaço para todos os indivíduos que desejassem consultá-los. O acervo vem crescendo desde sua criação, com conteúdo diversificado, que mostra a história de várias formas, por jornais, manuscritos, fotos, livros e outros. Destaque para os documentos manuscritos do período colonial (séc. XVI a XIX), e mais de 12 mil títulos de jornais e obras raras dos séculos XVI a XX.
4 - Praça Dezessete
Fica entre as ruas do Imperador, São José e a margem do Rio Capibaribe, Recife, num local antes denominado Pátio do Colégio, porque era vizinho ao Colégio dos Jesuítas. Depois da expulsão dos holandeses, o governo da Capitania instalou-se ali e o local passou a ser chamado de Pátio do Palácio. Foi denominada, também, Praça Pedro II e, finalmente, passou a Praça Dezessete, numa referência ao movimento republicano de 1817. Em 1846, foi instalada na praça uma fonte de mármore, com estátua de índia representando a nação brasileira, fabricada em Gênova, Itália. Estão registrados nessa praça: o feito de Santos Dumont, inventor do avião, e a travessia aérea do Atlântico Sul, realizada por aviadores portugueses que chegaram ao Recife a 05/06/1922. Também existe ali uma imagem de Ícaro, figura da mitologioa grega cujo pai (Dédalo) chega à Sicília com asas artificiais, enquanto ele afogou-se no Mar Egeu.
5 - Igreja do Espirito Santo
Na gestão do presidente da província de Pernambuco, José Bento da Cunha e Figueiredo (1852-1856), a Irmandade do Divino Espírito Santo, ciente de que o presidente tinha interesse em restaurar a abandonada igreja do antigo Colégio dos Jesuítas a ele se dirigiu através de ofício para solicitar a entrega daquele templo à Irmandade. O pedido enumerava algumas condições, entre elas restaurar a Igreja com a invocação e título do Divino Espírito Santo. Em 10 de julho de 1855, José Bento despachou o ofício concordando com a solicitação desde que as instalações do segundo andar do Colégio, onde funcionara a cadeia, fossem reformadas para abrigar o Tribunal da Relação. A Irmandade concordou e, em 27 de julho de 1855, o presidente da província ordenou ao presidente da Comissão de Higiene Pública a entrega das chaves da Igreja do antigo Colégio à Irmandade do Divino Espírito Santo. Dessa forma, e realizados os consertos mais urgentes, em 8 de setembro de 1855 “transladou a Irmandade do Divino Espírito Santo da Igreja da Conceição dos Militares para a sua própria, o seu divino padroeiro, em solene procissão, conduzido o S.S. (Santíssimo) sob o palio e exposto no trono do Espírito Santo durante o Te Deum, ao recolher da procissão” (PIO, 1960, p. 33).
6 - Fórum Thomaz de Aquino
Registra a história que o Tribunal de Justiça de Pernambuco passou a existir mediante o alvará de D. João VI, de 6 de fevereiro de 1821. À época, foi denominado Tribunal da Relação de Pernambuco e instalou-se num espaço dentro do antigo Colégio dos Jesuítas do Recife, em 13 de agosto de 1822. A sede do Tribunal foi transferida algumas vezes: do Colégio dos Jesuítas passou para o imóvel do antigo Erário (demolido em 1840), depois para o Palácio do Governo, em 12 de julho de 1838. Voltou para o Colégio dos Jesuítas, funcionou na Cadeia Velha, na rua do Imperador, até a sua extinção em 8 de janeiro de 1892, data em que fora criado o Superior Tribunal de Justiça. A partir de então, funcionou num prédio que ficava entre o atual Arquivo Público e a Secretaria da Fazenda até ocupar o imponente Palácio da Justiça, localizado na esquina da Rua do Imperador Pedro II, com frente para o jardim da Praça da República.
FONTES CONSULTADAS: VAINSENCHER, Semira Adler. Arquivo Público Estadual de Pernambuco. REVISTA DO ARQUIVO PÚBLICO, Recife, 1º semestre, 1946. ILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado: histórico dos bens tombados no Estado de Pernambuco. Recife: [s. n.], 2002. 266 p. MENEZES, José Luiz Mota; REINAUX, Marcílio. Palácio da Justiça. 2. ed. rev. e ampl.Recife: Gráfica e Editora Liceu, 1997.

Um Caminhar pela História do Recife - Parte 02

Bairros de Santo Antônio e São José
Antes da Invasão holandesa, à capitania de Pernambuco, a Ilha de Antônio Vaz era pouco ocupada, ali havia apenas o convento Franciscano no norte da Ilha, e uns poucos moradores. Diante da invasão, em 1630, o convento foi ocupado, passando a ser chamado de Forte Ernesto. Em 1630, quando se iniciou o domínio holandês, Diederick van Waerdenburch, o comandante das forças holandesas de terra, ordenou a construção de um forte na ponta sul da Ilha de Antônio Vaz, conhecido até os dias de hoje como Forte das Cinco Pontas. Quando Maurício de Nassau (Johan Maurits van Nassau-Siegen, 1604-1679) chegou ao Recife, em 1637, tratou de reforçar o sistema de defesa da ilha bem como de encomendar o plano urbanístico da Mauritzstadt (Cidade Maurícia), de autoria de Pieter Post. A Ilha de Antonio Vaz e a Cidade Maurícia constituiriam a área de expansão da cidade do Recife. A Cidade Maurícia (a oeste) e a Cidade do Recife (a leste) foram ligadas por uma ponte, construída em 1642, hoje chamada de Ponte Maurício de Nassau. Outras obras foram planejadas e executadas na Ilha de Antonio Vaz durante o período nassoviano, como a drenagem dos terrenos, canais, diques, palácios (Friburgo e Boa Vista), jardins (botânico e zoológico), museu natural, observatório astronômico, organização de serviços públicos como o de bombeiros e de coleta de lixo. Nos séculos subsequentes à ocupação holandesa o bairro prosseguiu seu desenvolvimento urbano, tendo se tornado a parte mais importante da cidade fora o porto. Nele desenvolveram-se todas as atividades citadinas de que são exemplos alguns edificios notáveis, como o Palácio do Governo, o Teatro de Santa Isabel, o Palácio da Justiça, o Mercado de São José, a Casa de Detenção e vários outros edifícios da administração pública estadual, federal e municipal. Na ilha de Antonio Vaz também há grande quantidade de edificios privados, como sedes de bancos e casas comerciais. Grande parte de seu patrimônio arquitetônico está nas igrejas, como a Concatedral de São Pedro dos Clérigos, a Capela Dourada e o Convento Franciscano, Basílica de Nossa Senhora do Carmo, Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares. Urbanisticamente o bairro preservou alguns pátios (pátio de São Pedro, pátio do Terço, pátio do Livramento) e a orientação predominante norte-sul de suas principais vias. No século XX o bairro passou por diversas modificações urbanas modernizadoras que descaracterizaram seu aspecto original. Foram abertas, entre os anos de 1940 e 1970, as Avenidas Guararapes, Dantas Barreto e Nossa Senhora do Carmo, a descaracterização espacial da Praça do Diário (onde está instalado o Diario de Pernambuco), a construção da Avenida Sul e do Viaduto das Cinco Pontas. Essas intervenções urbanas transformaram radicalmente o caráter residencial do bairro. Hoje a população residente está estabelecida majoritariamente no bairro do Coque.
* Como se caracteriza em uma região com inúmeras edificações importantes para a Cidade do Recife vamos subdividi-la em várias partes para poder contar de uma forma coerente e segura para a compreensão de todos a nossa história.
1ª parte composta pela: Praça da República e suas principais Edificações, e o Quarteirão Franciscano:
1- Praça da República
Encontra-se no extremo norte do bairro, na Ilha de Antônio Vaz, sendo margeada noroeste, norte e nordeste pelo ponto de junção dos rios Capibaribe e Beberibe. A Praça já teve várias denominações. O conde Maurício de Nassau construiu ali o Palácio de Friburgo, ou Palácio das Torres. Com sua destruição, no século XVIII, o local passou a ser denominado como Campo do Palácio Velho. Depois, quando a tesouraria da Capitania de Pernambuco ali se instala, onde antes era o Palácio das Torres, passou a ser chamado de Campo do Erário. Durante a Revolução de 1817, passou a ser denominado de Campo da Honra. Foi ali, sob esta denominação, que foram executados: Antônio Henrique Rabelo; padre Antônio Pereira de Albuquerque; Amaro Coutinho; Domingos Teotônio Jorge; José de Barros Lima (o Leão Coroado); José Peregrino Xavier de Carvalho; e o Vigário Tenório. Com a construção do Palácio do Governo, mudou a denominação para Largo do Palácio. Esta denominação mudou, com a visita de Dom Pedro II, para Campo das Princesas e finalmente, com a Proclamação da República, tomou a atual denominação de Praça da República. Nessa Praça estão localizadas várias edificações históricas como: O Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo Estadual; O Teatro de Santa Isabel; O Palácio da Justiça; O Liceu de Artes e Ofícios de Pernambuco; dentre outros. Existem ali também belas estátuas de Deusas que simbolizam as guardiãs do lugar. São elas: Ceres, a Deusa da fertilidade; Diana, Deusa da Caça; Flora, Deusa das Flores; Juno, rainha dos deuses do Olimpo, protetora das mulheres e o casamento; Minerva, Deusa das artes e Ciências; Níobe, Vesta e Têmis, que são consideradas as Deusas da justiça. Também se encontra um centenário baobá que dizem que foi fonte de inspiração a Antoine de Saint-Exupéry, ao escrever O pequeno príncipe.
2 - Palácios Campo das Princesas
O Palácio do Campo das Princesas é a sede administrativa do estado de Pernambuco. Idealizado desde 1786 pelo governador José César de Meneses, foi construído em meados do século XIX, quando, em 1841, o então governador Francisco do Rego Barros, futuro Conde da Boa Vista, mandou o engenheiro Firmino Herculano de Morais Âncora construir o Palácio Provincial que a República transformaria em Palácio do Estado. Em 1859 sofreu uma reforma para hospedar o imperador Dom Pedro II, a imperatriz Dona Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias e suas filhas, ocasião em que recebeu o nome de Campo das Princesas, inicialmente dado ao jardim onde as princesas brincavam, depois estendendo-se a denominação ao Palácio. No ano de em 1920, o prédio foi amplamente reformado, ocasião em que se construiu mais um pavimento, a fim de abranger todo o corpo do edifício, dando-lhe mais amplitude. Tais obras foram concluídas somente em 1922, durante o governo interino de Severino Pinheiro, devido à morte do governador José Rufino Bezerra Cavalcanti. Entre 1926 e 1930, no governo de Estácio Coimbra o palácio foi remodelado, decorado e mobiliado. No ano de 1967, o palácio chegou a servir de sede para o governo da República, na época do presidente Arthur da Costa e Silva e do governador Nilo de Sousa Coelho. Destaque para o estilo neoclássico, para o prédio com 3 pavimentos e para o interior com cadeiras, sofás e poltronas à Luís XVI.
3 – Teatros Santa Isabel
A ideia de construir um teatro público no Recife foi do então presidente da província de Pernambuco, Francisco do Rego Barros, barão, visconde e depois conde da Boa Vista. Em 30 de abril de 1839, ele assinou a Lei número 74, autorizando a construção de um teatro público para a cidade. A província não dispunha, na época, de profissionais qualificados, como engenheiros e arquitetos, nem sequer pedreiros ou carpinteiros especializados. Os poucos engenheiros que existiam tinham formação militar e para viabilizar o seu projeto de governo, Rego Barros promoveu a vinda de inúmeros profissionais europeus, engenheiros, matemáticos, técnicos e operários, entre eles, Louis Léger Vauthier, o engenheiro responsável pela execução do projeto do novo teatro, que chegou ao Recife, em setembro de 1840. O primeiro projeto elaborado por Vauthier, cujo orçamento era de 400 contos, foi rejeitado devido ao seu alto custo. O projeto definitivo, estimado em 240 contos, foi aprovado em fevereiro de 1841, sendo as obras iniciadas no mês de abril. O local escolhido foi o então chamado Campo do Erário, onde só havia areia. Atualmente é a Praça da República. Durante todo o período de construção era chamado de Teatro de Pernambuco. Só pouco antes da sua inauguração, em 18 de maio de 1850 o seu nome foi mudado para Teatro de Santa Isabel, em homenagem à Princesa Isabel, filha do Imperador Pedro II. A sugestão para a homenagem partiu do então governador da Província de Pernambuco, Honório Hermeto Carneiro Leão, o Marquês do Paraná. A peça apresentada no dia da inauguração foi O Pajem de Aljubarrota, do escritor português Mendes Leal. O Teatro de Santa Isabel era a grande casa de espetáculos da cidade, lugar de divertimento, convivência social e também de exercício da cidadania. Segundo Joaquim Nabuco, foi no Santa Isabel que se ganhou a causa da abolição da escravatura no Brasil, referindo-se a seus discursos e eventos lá realizados. Em 1859, o teatro recebeu seu mais ilustre convidado, o Imperador Pedro II, que, visitando as províncias do Norte, passou seu aniversário no Recife e foi ali homenageado com um espetáculo de gala. No dia 19 de setembro de 1869, o teatro foi quase que totalmente destruído por um incêndio, que deixou de pé apenas as paredes laterais, o alpendre e o pórtico, sendo construído, em madeira, como uma substituição temporária, no Campo das Princesas, o Pavilhão Santa Isabel. A orientação vinha de Louis Léger Vauthier, que, mesmo estando em Paris, teve as suas recomendações respeitadas pelo engenheiro José Tibúrcio Pereira de Magalhães, responsável pelas obras de reconstrução do teatro. O Santa Isabel foi reinaugurado no dia 16 de dezembro de 1876. Houve algumas obras de restauração nos anos de 1970 e 1977 e entre 1983 e 1985 inúmeros benefícios foram realizados no Teatro. Em 2000 foi iniciada outra reforma que exigiu intervenções para assegurar a preservação do prédio, retomar algumas feições originais, dar mais segurança aos seus frequentadores e mais espaços e recursos para a realização dos espetáculos. Dessa última reforma, a Fundação Joaquim Nabuco participou através do trabalho de técnicos do seu Laboratório de Pesquisa, Conservação e Restauração de Documentos e Obras de Arte - Laborarte. Um exemplo de arquitetura neoclássica predominante no século XIX brasileiro.
4 – Liceus de Artes e Ofícios
O Liceu teve assentada a primeira pedra em 23 de abril de 1871 e foi inaugurado em 1880, como sede da Escola de Ofícios mantida pela Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco, que ministrava aos interessados aulas de desenho, arquitetura, aritmética e primeiras letras. Extinto em 1950, desde 1970 seu acervo e o prédio, localizado na Praça da República, estão sob a guarda da Universidade Católica de Pernambuco, quando foi reativado oferecendo cursos técnicos em administração e contabilidade. O início do convênio com a Secretaria de Educação foi por volta dos anos 80, passando a funcionar como uma escola filantrópica, mantida pela Unicap, instituição ligada à Companhia de Jesus. A Unicap através de convênio firmado com a Secretaria de Educação de Pernambuco passa a receber os professores da rede.
5 – Palácios da Justiça
Sua pedra fundamental foi lançada em 2 de julho de 1924, pelo governador do Estado e juiz federal Sérgio Loreto, dentro das comemorações do primeiro centenário da Confederação do Equador. O projeto para a construção, em estilo eclético, aprovado em 1924 pelo engenheiro-chefe das Obras Complementares do Porto, é do arquiteto italiano, formado pela Escola de Belas Artes de Paris, Giácomo Palumbo (1891-1966), com a colaboração de Evaristo de Sá. Foi o quarto projeto apresentado. O primeiro, no ano de 1917, do arquiteto Heitor Mello, professor da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. O segundo, de Giácomo Palumbo, em estilo Luiz XVI, em dimensões menores que o projeto aprovado; e o terceiro, do arquiteto e pintor Henrique Moser. A sua construção levou cerca de seis anos para ser concluída (foi inaugurado em 7 de setembro de 1930, no governo de Estácio Coimbra) e teve momentos de paralisação: em 29 de dezembro de 1926, com obras reiniciadas em 7 de março de 1928. Inclusive, quando do reinício dos trabalhos o projeto fora reelaborado pelo próprio arquiteto Palumbo, a pedido da Diretoria de Obras Públicas que assumira os trabalhos. Entretanto, no governo de Carlos de Lima Cavalcanti o Palácio foi totalmente concluído onde houve a aquisição do mobiliário e o acabamento final nos ambientes do edifício. Na fachada, em frente à cúpula, encontram-se dois grupos de esculturas alegóricas a justiça e à lei, intitulados “A Justiça e a Família” e “A Justiça e o Homem”, do artista pernambucano Bibiano Silva. São também de sua autoria os bustos dos juristas pernambucanos Francisco de Paula Batista e Gervásio Pires, localizados na Sala dos Passos Perdidos. Da sua inauguração até os nossos dias, o interior do Palácio, no que se refere aos ambientes e seus usos, sofreu muitas modificações. O local onde foi erguido pertenceu antes ao Palácio de Friburgo, que servia como palácio de despachos do Conde Maurício de Nassau, conhecido também como Palácio das Torres que em 1770 foi demolido e construído o Erário Régio este também demolido em 1840.
6 – Quarteirão Franciscano
São edificações religiosas católicas pertencentes à Ordem Franciscana. Do complexo de edifícios, além do Convento e da Igreja, fazem parte a Capela Dourada e o Museu Franciscano de Arte Sacra.
* Convento de Santo Antônio
É uma das construções mais antigas ainda existentes na cidade do Recife. Sua origem remonta a 28 de outubro de 1606, data em que os frades resolveram erguer um convento na Ilha dos Navios para atender à população próxima ao porto. A ilha mais tarde veio a receber o nome de Ilha de Antônio Vaz, e desenvolveu-se no atual bairro de Santo Antônio. O terreno de 56 braças para a construção foi doado por um senhor de engenho chamado Marcos André, e em 1613 já se registra como terminado um oratório com hospital anexo, dedicados ao Padroeiro do Recife. Durante o período da dominação holandesa o edifício foi transformado em fortaleza, sendo acrescidos de muralhas, baluartes e demais apetrechos militares, recebendo o nome de Forte Ernestus. Depois, durante algum tempo foi votado à Igreja Anglicana, para atendimento dos oficiais da Companhia das Índias Ocidentais. Com a retirada dos holandeses o local passou novamente à propriedade dos Franciscanos, sendo restaurado e aumentado de uma enfermaria. Além de sua importância histórica o convento possui grande interesse artístico, apresentando inúmeras obras de arte, mobiliário esculpido em jacarandá e objetos sacros diversos. Destacam-se os painéis de azulejos da portaria e sobretudo do claustro. Perfazem painéis de grandes dimensões com cenas variadas, ilustrando episódios bíblicos como o Dilúvio, a morte de Adão, o sacrifício de Isaac, a expulsão do Éden e outras mais. Também existe uma rara série de azulejos, cujo conjunto inclui material originário de Delft e crê-se que seja remanescente do antigo Forte Ernestus e do Palácio de Friburgo, erguido por Maurício de Nassau a pouca distância dali, com cerca de 900 peças instaladas como friso no exterior da sacada do piso superior do claustro, cada uma com uma figura individualizada, datando de entre 1630 e 1650. Na capela do convento também existe azulejaria digna de nota, ilustrativa do Rosário de Nossa Senhora, e um púlpito obra de Francisco Manuel Béranger, do início do século XIX, além de mobiliário de bela feição.
* Igreja de Santo Antônio
A presente Igreja de Santo Antônio é a sucessora do primitivo oratório erguido junto com o convento no século XVII. No início século XVIII o oratório foi substituído por uma igreja maior, novamente remodelada entre 1753 e 1770, o que lhe emprestou o seu atual estilo rococó. A fachada se eleva sobre uma portada de pedra com cinco grandes arcos redondos, continuando acima apenas sobre os três centrais, com janelões emoldurados em pedra esculpida com ornamentos e volutas, encimadas por óculos redondos, dos quais o central é maior. A cornija de separação do nível superior tem um arco no centro e decai em suave curva até as extremidades, onde se encontra com contrafortes em volutas que sobem dos arcos extremos do térreo. O frontão que coroa o conjunto tem elegante desenho com grandes volutas floreadas, o brasão da Ordem ao centro e um cruz de arremate, além de pináculos em forma de labareda na base. Recuado em relação ao corpo da igreja está o campanário, à esquerda, com um coruchéu em bulbos octogonais superpostos revestido de azulejos. O interior, de nave única, preserva uma série de painéis de azulejos representando cenas da vida de Santo Antônio ao longo das paredes laterais e junto ao piso, e mostra algumas tribunas, um púlpito à direita e um teto em abóbada de berço (com pinturas de Sebastião Canuto da Silva Tavares) de onde pendem grandes candelabros. Bancadas e um corredor central conduzem até o fundo da igreja, cuja parede é completamente recoberta de talha rococó de refinado desenho. Nesta parede duas capelas secundárias se apegam ao arco do cruzeiro, dedicadas à Virgem Maria e São Francisco, respectivamente à esquerda e à direita, ladeando a capela-mor, em um nicho recuado. Seu retábulo ostenta um grande crucifixo rodeado de resplendor, tendo aos lados dois pares de colunas de capitel coríntio e fuste salomônico em uma e canelado em outra, além de estatuária menor, e um grande frontão ricamente lavrado. Acima, o teto da capela-mor é também em abóbada de berço revestida de azulejaria policroma em motivos florais. Anexa à igreja está a Capela Dourada, separada da nave por um grande arco gradeado, à esquerda. Na sacristia se guarda grande quantidade de objetos preciosos de culto e outras obras de arte, como mobiliário setecentista com ornamentação de prata, obra do mestre entalhador José Gomes de Figueiredo, além de lavatórios e pinturas a óleo. Atrás da sacristia existe um pequeno cemitério, onde se eleva um cruzeiro de pedra instalado em 1840. No século XIX, a Igreja de Santo Antônio abrigou o "cemitério dos infamantes" ou "da vergonha", onde eram sepultados indigentes, escravos e mártires de revoluções, como os da Revolução Pernambucana, de 1817.
* Capela Dourada
A construção da capela foi fruto de uma iniciativa dos Irmãos da Venerável Ordem Terceira de São Francisco das Chagas, criada em Recife no século XVI. Sendo abastados muitos de seus membros, decidiram erguer uma capela para os noviços da Ordem. A pedra fundamental foi lançada em 13 de maio de 1696 pelo Capitão General Caetano de Melo Castro, sendo mestre-construtor o Capitão Antônio Fernandes de Matos. A capela foi aberta ao público em 15 de setembro de 1697, com missa presidida pelo Comissário Visitador Frei Jerônimo da Ressurreição, embora ainda não estivesse inteiramente terminada, permanecendo em obras até 1724. Nascendo em uma época de grande prosperidade na região, ao longo do tempo a capela recebeu melhorias e rica decoração barroca, e sua condição atual data basicamente dos séculos XVII e XVIII. Seu nome deriva da grande quantidade de ouro empregada na cobertura da exuberante talha de madeira que forra praticamente todo os espaços das paredes, altares e teto. A sua construção e decoração contou com a participação de diversos artistas de importância na região. O teto com os arcos externo, do cruzeiro e da capela-mor, bem como mobiliário auxiliar, são obra de Luís Machado, do século XVII. O teto é dividido em caixotões para painéis pintados a óleo, com cenas diversas. A capela-mor, com um nicho central para um grande crucifixo e nichos laterais para São Cosme e São Damião, foi entalhada por Antônio Martins Santiago em 1698, e foi dourada por Manuel de Jesus Pinto em 1799. Ao longo das paredes laterais existe uma série de painéis de azulejos, altares menores com importante estatuária, dos quais se destacam o de Santa Isabel, o do Cristo atado à coluna, e o do Senhor dos Passos (com uma imagem de roca em tamanho natural com incrustações de rubis), e dezenas de painéis pintados representando santos e personificações das virtudes da Fé, Esperança, Caridade e Constância. As pinturas foram executadas entre os séculos XVIII e XIX pelos mestres José Ribeiro de Vasconcelos (entre 1759 e 1761), José Pinhão de Matos e João Vital Correia (em 1864), sendo dignas de maior atenção duas, de grandes dimensões, junto às bancadas, representando a prisão e morte de mártires franciscanos, cujos algozes, curiosamente, tiveram suas faces apagadas e riscadas, em data desconhecida, pela indignação de algum devoto. Na sacristia existe ainda mobiliário esculpido em jacarandá, datando de 1762, além de uma mesa de mármore e de um lavabo importados de Estremoz.
* Museu Franciscano de Arte Sacra
O museu foi fundado em 28 de setembro de 1974 pelo irmão Fernando Pio dos Santos, e está instalado nas dependências da Ordem Terceira de São Francisco do Recife, das quais também faz parte a famosa Capela Dourada. O museu possui um acervo variado que inclui paramentos litúrgicos, mobiliário entalhado, peças de culto em metais preciosos como ostensórios, turíbulos, tocheiros e candelabros, estatuária barroca e outros objetos. Dentre suas peças mais importantes estão a primeira imagem do Sagrado Coração de Jesus de Pernambuco, trazida pelo padre Gabriel Malagrida; uma imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho que estava no oratório da Faculdade de Direito do Recife; uma de Nossa Senhora da Conceição de autoria de João Pereira, que foi muito venerada enquanto esteve na desaparecida igreja da Madre de Deus; uma série de imagens da Procissão das Cinzas, vindas de Lisboa em 1709; um altar entalhado e dourado de 1804, com imagens de São Francisco das Chagas recebendo os estigmas de Jesus Cristo; uma Nossa Senhora das Mercês, um Crucifixo de 1751, e um Cristo glorioso.
FONTES CONSULTADAS: MENEZES, José Luiz Mota; REINAUX, Marcílio. Palácio da Justiça. 2. ed. rev. e ampl.Recife: Gráfica e Editora Liceu, 1997. BARBOSA, Antônio. Relíquias de Pernambuco: guia aos monumentos históricos de Olinda e Recife. São Paulo: Fundo Educativo Brasileiro, 1983 . FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977. SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado: histórico dos bens tombados no Estado de Pernambuco. Recife: [s. n.], 2002.

Um Caminhar pela História do Recife - Parte 01

Bairro do Recife Antigo
O Recife nasceu em um pedaço de terra circundado de manguezais e pelo Oceano Atlântico onde havia uma barreira de arrecifes, se tornando local ideal para a construção de um porto. Foi criado na primeira metade do século XVI, construído para escoar Pau Brasil e os produtos da atividade agro açucareira de Olinda, que era a capital pernambucana na época. Houve em seguida a necessidade da construção de depósitos para armazenar as mercadorias e casas residenciais para os trabalhadores portuários, criando assim, a comunidade que se chamava de “Ribeira do Mar dos Arrecifes dos Navios”. Inicialmente foi crescendo desordenadamente, as abertura de ruas obedecia apenas à vontade dos que ali se fixavam aos poucos o pequeno povoado, que durante quase 300 anos foi porto de Olinda, cresceu e se tornou a grande cidade do Recife. Hoje a “Ribeira do Mar”, onde o Recife nasceu, é o chamado Bairro do Recife Antigo.

1-Ponte Giratória
Foi construída na bacia defronte da antiga “Barreta”. A “Barreta” era a passagem natural das barcaças e outras embarcações do mesmo porte, único meio de transporte que se destinava aos cais interiores ou fluviais do Recife, como o da Alfândega, José Mariano e o do Colégio. A sua construção foi determinada quando da modernização do porto do Recife, em 1920. Na ocasião, ficou constatada a necessidade de uma ponte rodoferroviária, de vão central giratório, na embocadura do rio Capibaribe com o Beberibe, para favorecer a passagem das embarcações veleiras e para dar passagem ao transporte ferroviário para o porto do Recife. A Ponte era formada de três lances: dois fixos e um que girava. Este último deixava, ao girar, duas passagens para o trânsito marítimo. Com a implantação e a ampliação gradativa do sistema de transporte rodoviário no Estado o tráfego de embarcações foi diminuindo. A Ponte que fora construída em ferro, apresentou problemas na maquinaria e a função primeira da Ponte Giratória – dar passagem a grande número de barcaças que aportavam no porto do Recife aos poucos, caiu em desuso, assim, teve que ser desmontada e em seu lugar foi construída outra ponte, ampla e de cimento armado, que foi inaugurada, em 1971, com o nome de Ponte 12 de Setembro.

2-Cais e Paço Alfândega
É um verdadeiro retrato da memória urbana da cidade do Recife. Localizado às margens do Rio Capibaribe, no coração do Recife antigo, sua construção data de 1732. Neste local, funcionou, desde a ocupação holandesa, o Porto de Recife, considerado no século XVIII o porto mais movimentado das Américas. O prédio que abrigou durante quase 100 anos o Convento dos padres da Ordem de São Felipe Néri (Convento dos Oratorianos), a partir de 1826, passou a funcionar como sede da Alfândega. Muito tempo depois, com a mudança do porto para beira-mar, foi doado à Santa Casa de Misericórdia, tendo passado por vários usos, de cooperativa e armazém de produtos a estacionamento.

3-Igreja da Madre de Deus
É um dos mais importantes templos católicos do Recife. Foi o Capitão Antônio Fernandes de Matos que iniciou sua construção, em 1679. Situa-se na Rua Madre de Deus, no Bairro do Recife, ao lado do Paço Alfândega. A pedra fundamental da Igreja da Madre de Deus foi erguida em 16 de julho de 1706 e sua construção terminou em 24 de março de 1720, apresentando em sua fachada esculturas em pedras dos arrecifes e uma estátua de São Felipe de Néri, em tamanho natural. Nele abriga, além de uma obra em talha, algumas imagens que pertenceram à primitiva igreja do Corpo Santo, demolida em 1913, quando das obras de modernização do porto. Sofreu incêndio em 1971 e passou por profunda reforma em 1975. Nessa igreja é venerada a imagem do Senhor do Bom Jesus dos Passos, obra de um dos maiores escultores de imagens sacras, o pernambucano Manuel da Silva Amorim.

4-Ponte Maurício de Nassau
A ponte teve sua construção iniciada em 1640 pelo arquiteto Baltazar de Affonseca, por ordem do conde Maurício de Nassau, feita em madeira, e inaugurada em 28 de fevereiro de 1644, sendo considerada a primeira ponte de grande porte do Brasil e a mais antiga da América Latina. Sua construção foi criticada pela Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais por ter sido considerada dispendiosa demais para uma Colônia. A inauguração se deu no dia 28 de fevereiro de 1643 e a ponte foi chamada à época de Ponte do Recife. Nas suas cabeceiras havia dois arcos: o arco da Conceição, do lado do bairro do Recife, e o arco de Santo Antônio do lado do bairro homônimo. A ponte sofreu reformas em 1683 e 1742 e foi substituída por uma ponte completamente de ferro em 1865 tendo recebido, no ato da reinauguração, o nome de Ponte Sete de Setembro. A segunda ponte teve pouca durabilidade, pois a maresia corroeu o ferro da estrutura. Em 1917, a ponte foi reconstruída, dessa vez com a estrutura de concreto armado. Durante a obra de reconstrução foram retirados os arcos que existiam na ponte original, e, no ato da reinauguração, recebeu o nome que tem atualmente. Nas colunas da ponte atual há quatro grandes estátuas de bronze e duas placas com os dizeres: “Na entrada desta ponte, a primeira feita no Brasil e levantada neste local por Maurício de Nassau, o fundador da cidade, existiu o arco da Conceição, com uma das portas que se fechava, edificada em 1645 e demolida em 1913, por exigência do trânsito”. As estátuas ali colocadas são: Uma mulher usando capacete à Minerva, em atitude de quem discursa; A deusa Deméter-Ceres, padroeira dos campos cultivados; Uma mulher com uma torre na cabeça e coroa de louros, com o caduceu de Mercúrio na mão direita, tendo aos pés um canhão e sacos de mercadorias; A estátua da Justiça, com espada e balança. Atualmente a ponte serve ao trânsito de carros e interliga a Avenida Marquês de Olinda à Rua Primeiro de Março.

5-Ponte Buarque de Macedo
É conhecida como a ponte mais extensa da cidade. O seu nome é uma homenagem ao político e engenheiro pernambucano, Manuel Buarque de Macedo (1837-1881). Teve sua construção iniciada em madeira, em 16 de janeiro de 1882, sob a administração do engenheiro Alfredo Lisboa, e inaugurada em 20 de janeiro de 1890, com o nome do ministro pernambucano Buarque de Macedo, que autorizou a sua construção. Foi reconstruída em 1922, no governo de José Rufino Bezerra Cavalcanti e reinaugurada em 1923, na administração do governo sucessor Sergio Loreto. Ligando a Av. Rio Branco à Praça da República, sobre a junção dos rios Capibaribe e Beberibe.

6-Praça do Marco Zero
Praça Rio Branco - A praça é famosa por abrigar o Marco Zero do Recife, desse ponto a cidade começou a se expandir, aterrando aquelas águas que lhe renderiam comparações com Veneza e as terras da Holanda. Sendo também o ponto inicial das estradas do estado de Pernambuco. Em 1938 uma estátua do Barão de Rio Branco foi erguida e servia de vigia silencioso do ponto central da cidade daí veio o atual nome da praça. O local costumava abrigar árvores de grande porte e banquinhos que servia de parada estratégica para admirar uma extensa muralha de arrecifes naturais, com mais de seis quilômetros de comprimento, que faz contato direto com o Oceano Atlântico. O ambiente é composto pelo Porto do Recife, pelo Terminal Marítimo de Passageiros e pelo Parque de Esculturas Francisco Brennand, além de diversos casarões históricos. Em 1999 a praça que existia no local recebeu modificações, sendo a escultura do Barão do Rio Branco transferida para poucos metros do local original e recebendo uma rosa dos ventos impressa no chão, de autoria do artista plástico Cícero Dias, passando a ser uma área aberta para a realização de eventos, atualmente serve como palco de comemorações e apresentações artísticas.

7-Parque das Esculturas
O Parque das Esculturas de Francisco Brennand, situado no molhe dos arrecifes, em frente ao Marco Zero, sendo esses recifes de coral existentes na área que deram nome à cidade e foi exatamente ali, no local formado por um porto natural, que ela começou. Foi criado um Parque com cinquenta esculturas em bronze, representando ovos, tartarugas, maçaricos e pelicano; a Coluna de Cristal, que mede 32 metros de altura e foi feita em concreto, cerâmica e elementos esculturais de bronze; e cinco esculturas em cerâmica, entre sereias e uma meia coluna. O artista - Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand é um dos mais importantes artistas plásticos brasileiros vivos. Nasceu em 11 de junho de 1927, no Recife, Pernambuco. Trabalha com diversos suportes, sendo mais conhecido pelo seu trabalho como escultor e ceramista e possui trabalhos espalhados pelo Brasil e pelo exterior.

8-Sinagoga Kahal Zur Israel
A Kahal Zur Israel (Congregação Rochedo de Israel) foi à primeira sinagoga das Américas. Funcionou em Pernambuco durante o período de dominação holandesa (1630 a 1657). Durante esse período emigraram para o Recife milhares de judeus de origem portuguesa, refugiados nos Países Baixos, que vieram para a então colônia holandesa atraídos pela liberdade de culto religioso. Seu primeiro rabino foi o luso-holandês Isaac Aboab da Fonseca (1605-1693). Derrotados na Batalha dos Guararapes, as famílias judias retornaram para a Holanda a bordo do navio Valk. O desembarque ocorreu em Nova Amsterdã, atual Nova York, onde os judeus formaram a Congregação Shearit Israel, a primeira comunidade judaica da América do Norte. O material arqueológico datado do século XVII, foi recentemente identificado pelo Iphan e pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE. Como comprovação da existência e funcionamento da Congregação, foi identificada a construção de uma piscina com sete degraus - um "mikvê" - utilizada em rituais de banho de purificação. A fachada do prédio data do século XIX e, atualmente, abriga o Centro Cultural Judaico de Pernambuco.

9-Rua do Bom Jesus
Desde o tempo da ocupação holandesa, a Rua do Bom Jesus era a mais importante do Bairro do Recife, possivelmente em decorrência de seu traçado natural de velha estrada, que conduzia viajantes procedentes de Olinda. Inicialmente, ficou conhecida como Rua do Bode (Bockestraet). Durante do domínio holandês, tornou-se a via predileta dos israelitas, passando a ser chamada Rua dos Judeus. Quando eles deixaram Pernambuco, foi denominada de Rua da Cruz. Há indicações de que, nesse período, também teve o nome de Rua dos Mercadores, porém apenas no trecho da Rua da Cadeia e da Siculé, atualmente Marques de Olinda e Barbosa Lima, respectivamente. Em 1870, foi aprovado pelo Conselho Municipal o nome de Bom Jesus, proposto pelo Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. A Rua do Bom Jesus vai da Avenida Marques de Olinda até a praça Artur Oscar. Entre 1636 e 1654, existiu na rua a primeira sinagoga das Américas – aKahal Zur Israel (Rocha de Israel) – localizada nos prédios nºs 197 e 203. No término da rua, situava-se a Porta da Terra (Lantpoort), uma das portas da cidade no período holandês. No local, no dia 26 de janeiro de 1654, houve a rendição do governo flamengo. Esta Porta se transformou no Arco do Bom Jesus e foi demolida por "exigência do trânsito", em 1850. Também funcionaram ali a tradicional Botija Francesa, fundada em 1821, o Café Chileno, ponto de reunião de pessoas importantes, e o Hotel e Restaurante Europeu, que fez grande sucesso.

10-Praça do Arsenal da Marinha
Também conhecida como Arthur Oscar é uma construção de 1870, foi chamada inicialmente de Praça Voluntários da Pátria e localizada no bairro do Recife Antigo, abriga o busto do almirante de Tamandaré, "Patrono da Marinha Brasileira". Seu nome foi dado em homenagem ao general que comandou a quarta e última expedição contra o Arraial de Canudos. Possui em seu entorno a Rua do Bom Jesus, antiga Rua dos Judeus; a Torre Malakoff, batizada com o nome de uma das torres da fortaleza de Sebastopol, durante a Guerra da Criméia (1853-1855); e uma grande concentração da arquitetura do século XVIII.

11-Torre Malakoff
Um decreto provincial de 01 de janeiro de 1834 criava o Arsenal da marinha, tendo o projeto arquitetônico sido feito em 1837. Em 1853 foi iniciada a construção do então chamado Portão Monumental do arsenal da Marinha, na proximidade do Porto do Recife. Na época da sua construção, havia muita notícia veiculada pelo Diário de Pernambuco a respeito da Guerra da Criméia, com destaque para o foco de resistência em defesa da colina e da torre fortificada de Malakoff, o que gerou grande interesse no Recife e em todo o Estado de Pernambuco. Segundo o médico e historiador Pedro Veloso Costa, o batismo da torre com o nome Malakoff foi dado pela própria população, que na época acompanhava a longínqua batalha pelo jornal. Quando os arsenais da Marinha foram extintos com o início da República, a Torre foi transferida para o patrimônio do Porto, sendo depois abandonada e ameaçada de extinção. A população, sob a liderança de instituições literárias e culturais do Recife, mobilizou-se contra a demolição, utilizando como exemplo a própria resistência de Malakoff na Guerra da Criméia, sendo então, utilizada como centro de irradiação da Cultura na cidade. Ali funcionou, por algum tempo, um observatório astronômico.

12-Estação do Brum
Foi construída em 1889 e inaugurada em 1881, próxima à Fortaleza do Brum, daí seu nome e o trecho Brum a Pau D'Alho foi aberto no dia 24 de outubro de 1881. Até cerca de 1930, a estação era ligada tanto com a estação de Encruzilhada, seguindo dali para o norte e para a Paraíba, quanto com o porto, ao sul, e com a estação de Cinco Pontas. Por volta de 1932, os trens de passageiros não saíam mais de Brum, mas de Cinco Pontas, indo encontrar a linha Norte fora da cidade do Recife. A linha de Brum a Camaragibe foi retirada e os trens que seguiam para a Paraíba passaram a fazê-lo através de uma nova ligação entre a antiga Central de Pernambuco, que partia de Coqueiral, nesta linha, até encontrar Camaragibe. Embora não constem mais trens de passageiros partindo do Brum até Camaragibe pela linha antiga desde pelo menos 1932, as estações do trecho - Brum, Encruzilhada e Arraial ainda são citadas no Guia Geral de 1960, o que leva a crer que até essa época a linha e as estações ainda existiam. O prédio da estação ainda existe, na avenida Alfredo Lisboa. É sede do chamado Memorial da Justiça no Recife, tombado pelo FUNDARPE desde 2001.

13-Forte do Brum
O Forte do Bom Jesus, conhecido hoje como o Forte do Brum, foi construído pelos donatários da capitania de Pernambuco, no século XVI, para segurança e proteção da barra do porto e da povoação do Recife. Sua construção foi necessária, pois a era alvo de ataques de piratas ingleses e franceses, por ter sido uma das capitanias mais prosperas e que produzia e comercializava produtos nativos como o pau-brasil, algodão e açúcar. Erguido pelos holandeses em uma posição estratégica, que oferecia vantagens defensivas, o Forte do Brum, foi equipado com sete canhões de metais, sendo dois canhões de 24 libras, um de dezoito, um de dezesseis e um de dez libras, além de duas bombardas. Com a expulsão dos holandeses, em 1654, o Forte retorna à administração da Capitania de Pernambuco e mais uma vez passa por reformas. No projeto de reconstrução, foi edificada uma capela sob a invocação de São João Batista do Brum, que determinou a sua nova denominação: Forte de São João Batista do Brum. O Forte do Brum é um monumento que testemunhou inúmeros acontecimentos históricos, invasões, revoluções, registrados em Pernambuco, no Brasil e no mundo. No dia 19 de dezembro de 1985, o Governo Federal, através da Portaria Ministerial n. 1240, autorizou a criação do Museu Militar do Forte do Brum (MMFB), em homenagem ao soldado nordestino. O Museu foi inaugurado no dia 05 de janeiro de 1987, como um espaço de visitação turística e um local para estudo e reflexão.

14-Ponte do Limoeiro
A primeira ponte erguida neste local era de metal, construída em 1881 para dar passagem aos trens de uma estrada de ferro, a chamada linha norte do Estado, explorada pela Great Western, que se destinava à cidade de Limoeiro possuindo apenas os trilhos nos dormentes e não havia passagem para pedestres. O Governo Provincial, desde 1868, previa muito lucro no transporte ferroviário do açúcar pernambucano entre o Recife e a cidade de Limoeiro, uma vez que, no percurso planejado, havia muitos engenhos e fazendas de gado. Foi substituída por outra, construída em concreto pela Empresa Christian Nielsen, e inaugurada no dia 30 de julho de 1966 pelo Senador Pessoa de Queiroz, na administração do prefeito Augusto Lucena. Fica sobre o rio Beberibe que une o bairro do Brum ao de Santo Amaro, e a Rua Cais do Apolo à Av. Norte.

15-Cruz do Patrão
Construída no istmo que liga o Recife à Olinda, está localizada ao norte do Forte do Brum e ao sul do Forte do Buraco, edificado pelos holandeses no século XVII e hoje desaparecido. Trata-se de uma pesada e alta coluna dórica, feita de alvenaria, com seis metros de altura e dois de diâmetro, tendo em cima uma cruz de pedra. A cruz original era de madeira e teria sido construído no início do século XIX, possivelmente em 1814, para servir de baliza às embarcações que entravam no porto do Recife. O nome indica patrão-mor, mestre de barco. Segundo a tradição, o local é tido como mal-assombrado, porque era onde se enterravam escravos que morriam ao chegar da África.

FONTES: CAVALCANTI, Carlos Bezerra. O Recife e seus bairros. Recife: Câmara Municipal, 1998. 166 p. il. GONÇALVES, Fernando Antônio. O Capibaribe e as Pontes: dos ontens bravios aos futuros já chegados. Recife: Comunigraf, 1997. 86 p. MELLO, Virgínia Pernambucano de. As pontes do Recife. Recife: Água Marinha Mídia Educacional, 2003. [CD-ROM]. Patrocínio de NC Energia-Grupo Neoenergia. Livro Trilhas do Recife, de João Braga FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife: estátuas e bustos, igrejas e prédios, lápides, placas e inscrições históricas do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.382p. CARTA DE FLORENÇA, 1981. In CURRY, Isabele (org.). Cartas patrimoniais. Rio de Janeiro, IPHAN, Edições do Patrimônio, 2000. FARIAS, Abelardo Cabral. Praça de Casa Forte. Redescoberta e resgate. Monografia do curso de Engenharia Florestal, UFRPE, 1997. MARX, Roberto Burle. Arte e paisagem. São Paulo, Nobel, 1987. KAHAL Zur Israel: Congregação Rochedo de Israel: resgate da memória da 1a. Sinagoga das Américas. Recife: Fundação Safra/Centro Cultural Judaico de Pernambuco, 2001. KAUFMAN, Tânia Neumann. Passos perdidos – História recuperada: a presença judaica em Pernambuco. Recife: Edição do Autor, 2000. LARGMAN, Esther Regina. Judeus nos trópicos: a comunidade judaica da Bahia de 1912 a 1945. Morashá, São Paulo,a. 10, n. 36, p.49-53, mar. 2002. Site